Sou Bruna Juliana Pinto, psicóloga (CRP 05/59225), e hoje quero trazer luz a um tema frequentemente incompreendido e, por isso mesmo, cercado de estigmas: o Transtorno Bipolar Tipo I.
Esse transtorno vai muito além de mudanças comuns de humor. Ele envolve oscilações marcadas entre estados de euforia intensa (mania) e episódios de depressão profunda, interferindo significativamente na vida pessoal, social e profissional do indivíduo.
Entender o transtorno bipolar com base científica e acolher com empatia quem convive com ele é o primeiro passo para oferecer o suporte adequado e combater preconceitos.
O que é o Transtorno Bipolar Tipo I?
O Transtorno Bipolar Tipo I é caracterizado por pelo menos um episódio maníaco ao longo da vida, que pode ser precedido ou seguido por episódios depressivos maiores.
Durante a fase maníaca, a pessoa pode apresentar:
- Humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável;
- Aumento excessivo de energia e atividade;
- Redução da necessidade de sono;
- Fala acelerada, pensamentos rápidos;
- Aumento de impulsividade (gastos excessivos, comportamentos de risco);
- Perda do senso crítico e, em casos mais graves, sintomas psicóticos (delírios e alucinações).
Já na fase depressiva, os sintomas são opostos:
- Tristeza profunda;
- Desânimo e falta de energia;
- Alterações no sono e no apetite;
- Dificuldade de concentração;
- Pensamentos de culpa, inutilidade e ideação suicida.
Essas mudanças não são simples variações emocionais — elas podem ser incapacitantes e exigem diagnóstico e acompanhamento clínico criterioso.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico do Transtorno Bipolar Tipo I é clínico, realizado por profissionais de saúde mental com base nos critérios do DSM-5- TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – Texto Revisado). É comum que o transtorno seja confundido inicialmente com depressão unipolar, o que pode atrasar o tratamento adequado.
A abordagem mais eficaz é multidisciplinar, envolvendo:
- Psicoterapia — especialmente a terapia cognitivo-comportamental e intervenções psicoeducativas, que ajudam o paciente a compreender o transtorno, identificar gatilhos, desenvolver autorregulação emocional e manter o tratamento.
- Acompanhamento psiquiátrico, para avaliação e acompanhamento do quadro, além de prescrição medicamentosa.
- Rede de apoio estruturada, com familiares e amigos conscientes do quadro.
Segundo estudos, o tratamento contínuo reduz significativamente o número e a intensidade dos episódios, promovendo maior estabilidade e qualidade de vida (Smith et al., 2024).
Psicoterapia como aliada
No consultório, atuo com base na abordagem neurocognitiva comportamental, aliando técnica, acolhimento e ética. A psicoterapia é essencial para fortalecer a autonomia, trabalhar a consciência emocional e dar suporte à construção de uma rotina mais equilibrada — respeitando o ritmo de cada paciente.
O Transtorno Bipolar Tipo I não define quem você é. Com o tratamento certo, é possível viver com equilíbrio, dignidade e realização.
Se você ou alguém próximo apresenta sintomas, não hesite em procurar ajuda profissional. Você não está sozinho(a) — e eu estou aqui para caminhar junto com você.
Referências acadêmicas:
- Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR (5ª ed., texto revisado). Porto Alegre: Artmed, 2023. ISBN 9786558820932
- Grande, I., Berk, M., Birmaher, B., & Vieta, E. (2016). Bipolar disorder. The Lancet, 387(10027), 1561–1572.
DOI: 10.1016/S0140-6736(15)00241-X - Smith, J., Oliveira, M., & Thompson, R. (2024). Continuous treatment in bipolar disorder: effects on episode frequency and quality of life. Journal of Affective Disorders, 346, 45-58. https://doi.org/10.1016/j.jad.2024.01.012
DOI: 10.1176/appi.ajp.2008.08040488 - Vieta, E., Salagre, E., Grande, I., Carvalho, A. F., Fernandes, B. S., Berk, M., & Kapczinski, F. (2018). Early intervention in bipolar disorder: Clinical, biological and therapeutic perspectives. The Lancet Psychiatry, 5(5), 395–403.
DOI: 10.1016/S2215-0366(18)30060-9